quinta-feira, 11 de março de 2010

O Amor é um Lugar Estranho - Pelos Leitores # 11


Diane Kruger e Quentin Tarantino fotografados por Jean-Baptiste Mondino


Da autoria do Cachecol do Pintor

O amor é um lugar estranho e por isso costumávamos encontrar-nos em aeroportos
E costumávamos falar do quão agradável era aquele sol ou aquela paisagem, porque acreditem, eram mesmo
E costumávamos comer sushi às sextas-feiras à noite
E costumávamos sentar-nos em bancos de jardim, é cliché mas sabia bem
E costumávamos abraçar-nos nas estações de comboio
E costumávamos esperar muito um pelo outro
Eu costumava gostar de arte moderna e tu dos clássicos
Eu costumava orientar o meu calendário pelos fins-de-semana fora
Eu costumava receber os teus postais atrasadíssimos
E costumávamos comer algodão doce, bem, eu costumava
E costumávamos dar pouco as mãos
Eu costumava ser ansioso e idealista e ter saudades do futuro
Eu costumava ser muito chato
Eu costumava pensar que já não escrevia poesia, mas depois até escrevi
Eu já começava a me acostumar
Eu costumava achar que gostar assim não era costume há algum tempo
E costumávamos pensar muitas coisas igual
Eu costumava ser de esquerda e tu de direita, mas pouco interessava
Eu costumava conduzir muito para te ver e rezava para o motor se aguentar
Eu costumava saber pouco latim e afinal sempre me fiquei pelo ceteris paribus
E costumávamos rir dos meus DVD’s com embalagem ainda por abrir
E costumávamos jantar fora e ver a lua
E costumávamos ver concertos de música clássica em noites quentes
Eu costumava aprovar os teus brincos
Eu costumava aprovar o teu vestido, mas só depois de duas voltas e de te agarrar
Eu costumava acalmar o teu perfeccionismo
Eu costumava ter orgulho em ti
E costumávamos elogiar-nos como por exemplo “és uma grande mulher, sabes?”
E costumávamos fazer tantos planos de sítios a visitar que merecíamos no mínimo sete vidas para os completar
Eu costumava parar muito tempo em frente a quadros
Eu costumava ouvir músicas tristes e tu alegres
Eu costumava ouvir música alta e tu pedias para baixar
E costumávamos não ficar aborrecidos porque afinal de contas iríamos lá voltar outra vez
Eu acostumava-me facilmente em oferecer-te flores de 3 em 3 meses, mas não houve tempo
Eu costumava ser impulsivo, apaixonado e temperamental
Eu costumava deixar-te bilhetes quando ia para o trabalho e ficavas na minha cama
Eu costumava assinar os bilhetes com “o teu, Tiago.”
E costumávamos pensar que dois meses pareciam já dois anos
E costumávamos sorrir com o pensamento anterior
Eu costumava acordar primeiro e depois só me apetecia agarrar-te, isso aborrecia-te
E costumávamos ter força para continuar apesar das contrariedades
E costumávamos falar todos os dias, religiosamente
Eu acostumei-me a fazer coisas que não fazia, e sabia bem
E costumávamos tirar fotos a nós dois, não saiam muito bem
Eu costumava perguntar-me como o Jorge Palma “será que ainda cá estamos no fim do Verão?”
Eu costumava torcer para que viesses no comboio mais cedo de todos
E costumávamos discutir, bom, foram só umas duas vezes
E costumávamos comentar que o tempo juntos passava assustadoramente rápido
Eu costumava ter medo que te esquecesses de mim quando fosses para longe, mas suponho que isso é normal
E era costume mandarmos e-mail de bom dia
Eu costumava chamar-te moreninha
E costumávamos achar uma sorte termo-nos conhecido
E costumávamos, mas agora não
Porque o amor é um lugar estranho e nós esquecemo-nos do caminho

18 comentários:

athenriques disse...

pois é, às vezes alguém esquece-se do caminho...ou o caminho simplesmente não tem que ser feito pelos dois...

Sofia disse...

Rendida e sem palavras... Voltem a acreditar no Amor.. :D

Anita disse...

LIN-DO! E um pouco triste...

docinho disse...

É lindo e é como eu, gosto muito de algodão docinho :D. É certo que o amor é um lugar estranho.

VidasTecidas disse...

este até agora foi a meu ver o único excelente
susana

Bags&Books disse...

adorei!

Vénus disse...

Gostei.
É certo que o AMOR, por vezes, é um lugar estranho, mas sem ele sentimo-nos tão sós... Vale a pena percorrer Kms para chegarmos lá... e encontrarmos esse lugar estranho... que nos completa na totalidade!

Mas há tantos caminhos que nos levam lá... e não será por nos enganarmos uma, duas, três vezes que vamos desistir de lá chegar. E o erros ajudam-nos a aprender...

AFEP disse...

A última frase está divinal... MESMOO..
É verdade, o amor é um lugar estranho, cada dia que passa há algo diferente..

sónia, mulher e mãe disse...

Amei este texto.
Que belas contribuições tens recebido querida Kitty Fane!
Beijos solarengos

Mafas disse...

É muito lindo!*

Microondas disse...

muito bonito o texto cachecol. Gostei particularmente da frase final.

D. disse...

porque, às vezes, o amor é um lugar triste.

Ana disse...

o mais bonito que já li!

Anônimo disse...

Está lindo :)

Anônimo disse...

Eu acho que sempre que nos esquecemos do caminho o nosso coração de uma maneira consciente o inconcientemente,de outra uma maneira ou de outra leva-nos sempre lá, ao amor.

Ass:http://www.cheiraafelicidade.blogspot.com/

Anônimo disse...

Que lindo. A simplicidade das palavras que nos tocam bem lá no fundo :D

Cachecol do Pintor disse...

Obrigado :-D

joaninha disse...

absolutamente fantastico. amei :) porque sim, porque o amor é mesmo um lugar muito estranho...