terça-feira, 24 de maio de 2011

Dos cirurgiões

Marion Cotillard fotografada por Ellen Von Unwerth, 2010

Estava a ler este post da Mãe Preocupada (um dos meus blogues favoritos) e lembrei-me que, tal como ela, os cirurgiões são os profissionais que mais admiro. São, para mim também, uma espécie de deuses que tratam e remendam o nosso corpo como se não fossem deste mundo, como se possuíssem poderes sobrenaturais. Que seria de mim se não tivesse conhecido o meu médico cirurgião, que me tem acompanhado ao longo destes anos, na altura certa? Possivelmente já não estaria aqui. A minha confiança nele é sempre tão grande que me faz ir bem tranquila para uma mesa de operações, mesmo sabendo que posso ficar lá ou regressar com sequelas profundas irreversíveis.

Mas, infelizmente, não são todos perfeitos como ele. Muitos deles esquecem-se que do lado de cá está um ser humano com sentimentos e não um simples objecto que precisa de ser remexido e tratado. Penso que é nesse erro que caem alguns cirurgiões. Passados cinco anos, ainda hoje sinto arrepios, no mau sentido, quando penso na cirurgiã que me operou pela primeira vez. Uma espécie de Dr House (personagem que só tem piada na série, interpretada pelo Hugh Laurie, ao vivo dispensa-se) - excelente profissional mas que a nível humano deixava muito a desejar. Para além da sua arrogância natural, dísse-me que eu tinha uma doença grave como quem diz a alguém que apanhou uma constipação. E isso é completamente imperdoável. A última vez que a vi, numas escadas do CCB, virei a cara. Ela deve ter-se interrogado - como era possível eu ainda estar viva depois do cenário negro que me traçou da forma mais cruel? E deve ter continuado a sua vida normal como se nada fosse.

2 comentários:

ADEK disse...

Uma pessoa como a médica que descreves não pode ser "excelente profissional". Pelo menos na minha opinião. A parte humana é indissociável da parte científica da coisa.

Todos os dias lido com os meus doentes com isso em mente.

Helena Barreta disse...

Ainda hoje tremo e sei que "morri" ao ouvir as palavras que há 14 meses a cirurgiã nos disse, num corredor do hospital, com ar superior, fria e perfeitamente insensível, as palavras mais cruéis. Manteve a postura quando depois da operação continuou a traçar o cenário mais negro que possa existir e disse-o "sem papas na língua" à minha irmã e ao pai do meu sobrinho.

Um beijinho