quinta-feira, 4 de março de 2010

Das mazelas, cada um sabe das suas


"The Broken Column" by Frida Kahlo

A minha mãe sempre me disse que com os problemas dos outros podemos nós bem. Também sempre ouvi dizer que pimenta no rabiosque dos outros para mim é refresco. É que é sempre tão fácil falar quando são os outros. Os outros. Lá longe. Não nós.

Ah e tal, anda ali a chorar pelos cantos por causa de um homem. Que parvalhona.

Ah e tal, anda sempre deprimida sem razões para isso. Que idiota.

Ah e tal, teve um cancro e de vez em quando até fala naquilo. Que deprimente.

Ah e tal, morreu-lhe um filho e nunca mais largou a cara de enterro. Que fraca.

Ah e tal desde que morreu o marido com quem esteve cinquenta anos casada nunca mais largou o luto. Que horror. Deus me livre de um dia ser assim.

Ah e tal, eu é que sou o máximo que, com tanto problema na minha vida, nunca falo disso. Sou a maior. Uma salva de palminhas e uma vénia para mim. Já. E até consigo inventar piadas com os problemas dos outros. Pobres deles. Dos outros. Que falam dos seus problemas.

Como se se passasse assim uma borracha por cima das coisas, e, plimmm, apagava-se tudo como que por magia. Desaparecia tudo da nossa mente. E, pronto, voltávamos felizes e contentes à nossa vidinha sem feridas físicas ou psicológicas. É sempre tão fácil falar.

Obviamente que ninguém é adepto do "ai coitadinha de mim, só eu é que tenho problemas". Ninguém é adepto da lamentação diária para que todos olhem para nós com arzinho de pena. Mas, das mazelas, cada um sabe das suas.

No fim de tudo, fico sempre a torcer para que estas pessoas não tenham um dia de mudar de ideias à custa das provações da vida.

42 comentários:

tata disse...

Já cansa a guerrinha... Vou ali e já venho

rosemary disse...

"O Sol quando nasce, nasce para todos".

Uma Lady, aqui a nossa Kitty Fane!

Filipa disse...

Clap! Clap! Clap! Clap! (aplaudo de pé este teu texto)

Vera disse...

subscrevo na integra!

Marta disse...

É o chamado...Cuspir para o ar.

Felizmente que todos somos diferentes, e melhor, que sentimos diferente, o pior é que há quem não sinta sequer...e sempre ouvi dizer...quem não sente, não é filho de boa gente.

Apesar de nem sempre concordar com algumas coisas que escreve, este post foi sem dúvida muito certeiro.

B. disse...

Mas por vezes, essas pessoas que não falam das suas mazelas e que aparentam uma imagem forte, são só isso - imagem, quando por dentro podem estar a sofrer horrores, sem o partilhar. Escrevo isto, porque já passei por muito, mas tento ter uma atitude positiva perante a vida, não desprezando nunca o sofrimento dos outros, é claro, muito pelo contrário.

Anônimo disse...

Concordo na íntegra contigo!! É muito fácil falar quando as coisas não nos dizem respeito..o problema é quando os problemas batem à nossa porta! Beijo

rosaamarela disse...

GOSTO deste blog é a minha "cara"

S* disse...

Não deixas de ter razão - tens toda a razão - mas este bate-papo entre blogues já cansa.

Get over it. Vêm aí os Oscares!! :D

Rita disse...

Bom... eu detesto picardias e até imagino porque fizeste este post. Só tenho a dizer que concordo com o que dizes... e só acrescento... cada um sabe das suas e cada um lida da melhor maneira que encontrar... é a máxima... cada um sabe de si e ponto final.

Beijos

Rita

Miss Complicações disse...

Cara Kitty Fane, ainda que sinta que não sou bem-vinda, a boa educação e a minha consciência, aqui me obrigam a comentar o post que não deixa de ser exagerado a de roçar a ironia, caso contrário não teria piada.

Se me tivesse que incluir em algum grupo seria naquele em que diz
"Ah e tal, eu é que sou o máximo que, com tanto problema na minha vida, nunca falo disso. Sou a maior. Uma salva de palminhas e uma vénia para mim. Já. E até consigo inventar piadas com os problemas dos outros. Pobres deles. Dos outros. Que falam dos seus problemas."

A verdade é que o facto de eu encarar as ”rasteiras” da vida de uma forma mais leve e descontraída, nada tem a ver com querer ser heroína, até porque tombo como qualquer um e acho que no dia que tombar é como ninguém.
Piadas invento bastantes, mas é com os meus problemas e com os das "minhas pessoas", as quais sei que encaram a piada como uma forma de sacar um sorriso.
A verdade é que custa-me ver pessoas a lamentarem-se quando há sempre alguém pior que nós. É um defeito meu. Há quem não goste de pessoas que só falam de sapatos. Eu não gosto de pessoas que falam de tristezas. Cada qual com a sua mania.

Acho que me expliquei e espero que quem lê as minhas opiniões seja suficientemente inteligente para perceber que não sou "uma cabra insensível e narcisista".

Fique bem Kitty Fane

eu... disse...

A última frase diz tudo.
Cada um reage à sua maneira e cada um sabe onde lhe dói.

Bianca disse...

Ah e tal, excelente pensamento, perfeito desenrolar de texto e magnifica escolha de imagem, Frida Kahlo Mulher sofredora em todos os prismas da vida, e sem queixumes!
Gosto de te ler quando assim.
Beijo

Cristina disse...

É mesmo como diz a tua mãe "pimenta no rabo dos outros para mim é refresco".

rosaamarela disse...

.. é mesmo a minha "cara"

rosaamarela disse...

GOSTO mt deste blog

good luck

Kitty Fane disse...

Mas... qual guerrinha? Este post já andava para ser escrito há muito. Não há guerrinhas aqui, lamento. :-)

Kitty Fane disse...

Volto a repetir, todos os comentários sobre determinado assunto (que já cheira mal), serão censurados. Obrigada e espero que compreendam. :-)

Raquel A. disse...

Querida Kitty Fane,

Já que estamos em tempo disso, acho que este texto merecia um Óscar. Por uma razão muito simples, quem lê nota que é sentido, e quem escreve assim só merece os parabéns por isso.

Este texto mostra maturidade, humildade e acima de tudo, respeito pelas pessoas. Pessoas que ao lerem isto se identificam de imediato com o que escreveste.

Quando comecei o meu blog, que não é à toa que tem aquele nome, fi-lo exactamente como meio de escape, ou tentativa que ao narrar os problemas que estava a sentir isso me fizesse melhor. E faz. Quando tenho que escrever sobre as minhas mazelas ou os meus problemas faço-o sem pudor. Tanto me faz que as pessoas pensem que sou uma coitadinha ou que me estou sempre a queixar e que o sismo do Haiti é que é importante.

A realidade de cada um é única, a sua personalidade também. Gostava de encarar certas situações com uma leveza maior, mas não sou assim.

Respeito quem é totalmente diferente de mim da mesma forma que respeito as pessoas que se identificam comigo.

Há uma coisa que não suporto, que me tira do sério... a falta de sensibilidade perante os problemas dos outros. O fazerem troça, ignorarem, falarem nas costas, fazerem piadas... Esquecem-se que são pessoas iguais às outras e não seres superiores, apenas diferentes.

(desculpa se me alonguei)

**

Anônimo disse...

O teu último parágrafo faz todo o sentido para mim: a vida tratou de me ensinar a não julgar tanto os outros porque quem hoje criticamos podemos ser nós amanhã.

Luisa disse...

Revejo-me completamente neste post. Não me esqueço de uma professora na faculdade ter dito: "Hoje em dia não se pode chorar, não se pode fazer o luto, temos que ser sempre fortes, se as pessoas soubessem o quanto estão erradas..." é bem verdade.É em viver as nossas dores que nos tornamos mais fortes e compreendemos as dores dos outros.

The New Black disse...

A infelicidade bate à porta de todos. Mais cedo ou mais tarde todos perdem alguém, todos passam por um problema de saúde, todos têm chatices... Há quem relativize, há quem dê ênfase, mas as pessoas n são iguais e têm de ser respeitadas pela sua individualidade. Bjs

O Príncipe Duarte disse...

Era bom que houvesse uma boracha milagrosa que apagasse o nosso sofrimento passado. Mas não há, ele tem que estar sempre presente, para nos ajudar a aceitar o que o futuro nos reserva, quer seja bom, quer seja mau!

alice

Guerreira disse...

Cada dia que passa, aprendo a não fazer criticas destrutivas ao problemas dos outro e se me veem pedir o "ombro amigo" eu dou, sem criticas e lamentações, se me pedrem opiniões e tento sempre colocar-me no lugar das pessoas! Falar de fora é sempre fácil, mas estar nelas é que já não é assim tão fácil.
Admiro sim é as pessoas que depois de uma "queda", que se consigam "erguer" e tentar ser feliz, independetemente do tempo que isso demore, porque todos somos diferentes, ninguém é perfeito e todos nós erramos!
Parabens pelo teu post.

rosaamarela disse...

Peço desculpas por ter repetido o post estava/estou em fase de "treinos"

rosaamarela disse...

Durante mt tempo participei num forum onde houve muito "sangue derramado" sabes o que aconteceu cansaram-se e foram embora para outro. Assim P.F. não mates a galinha dos ovos de ouro.
Good luck

mãe pimpolha disse...

Adorei o post. Enfim há gente muito mesquinha.
Beijocas

Lénia Rufino disse...

Disseste tudo. Não podias ter sido mais certeira. Cada um sabe de si. Bora mas é lanchar lá no tal sítio.

Beijo.

margarida disse...

Eu só tenho a dizer o que já disse noutras alturas, toda a gente conhece pessoas que já tiveram/têm problemas e fazem piadas (mórbidas às vzs) com isso. Mas a diferenca está entre ser o próprio a fazê-las, para rir em vez de chorar, e ser uma outra pessoa qualquer, que não está nem quer aliviar nada, só diminuir e menospreza o visado. Fazer piadas e gozar/diminuir/humilhar os outros têm aqui uma linha de serparacão muito ténue.
Tocam-me mais de perto as doencas e as dores de coracão, mas concordo com tudo.

Mi disse...

Concordo plenamente com o que escreveste. Cada um sente as coisas à sua maneira, ninguém se deve achar melhor por conseguir ultrapassar os problemas de outra forma. Felizmente, somos todos diferentes, e devemos respeitar-nos como tal.
Até podia dizer que devias ignorar esse tipo de "ataques" mas, como disse, somos todos diferentes.
kiss

Sandra disse...

Pronto. Agora tudo o que se escreve aqui tem de ser esmíuçado até à última vírgula...Quem leva e traz não quer a paz.

Cada um sabe de si.Na alegria e na tristeza.

Cada vez gosto mais do que leio neste "lugar"...

BG disse...

Claro, há agora uma música por aí que me parece perfeita para este assunto:
"eu sou tão bom a falar da vida ds outros, há sempre um conselho a dar para a vida dos outros... é fácil de ter calma quando a alma não me doi a mim. E sempre me sei comportar na vida dos outros... sou tão bom a apagar qualquer mau momento se é aos outros que que bate à porta o sofrimento "
É qualquer coisa assim, foram-me ficando as frases (só hoje já a ouvi na rádio 3 vezes), embora tenha muito mais pelo meio!

BG disse...

Miss complicações não se deixou de lamentar por se sentir profundamente triste quando bateu com o carro pois não? Mesmo havendo pessoas que batem e têm consequencias mais graves, pois não?

Clarice disse...

Kitty, leio o teu blog há algum tempo.
Faço-o com gosto. Porque me distrai, porque gosto da formas como escreves, porque pessinto aqui uma suavidade que me sabe bem.

A questão que abordas neste post é delicada. É que, ao falarmos da nossa dor - seja ela qual fôr - estamos a confrontar os outros com eventuais dores - e medos e mágoas.
E, por vezes, isso é incómodo. Como referes, há pessoas que, conscientemente ou não, fazem accionar o seu instinto de defesa, fechando-se a esse processo. E passam ao lado, adjectivando, de forma mais ou menos superficial, a forma como percepcionam a dor dos outros.

É disso que se trata. Como se a dor dos outros não fosse tão legítima como a nossa. E, se camuflamos a nossa dor, como reagir perante a dor dos outros? Que, tanto mais, ´"não nos pertence"?

Kitty Fane, pessoalmente, aprecio as pessoas que integram a dor nos processos criativos. Existem exemplos grandiosos, na arte, na literatura, no conhecimento.
E existem os exemplos quotidianos, de cada um de nós.

Claro que existem as pessoas que optam por outras vias. Claro que são absolutamente legítimas.

Mas, é um acto "totalitário" pretender censurar a dor dos outros - minimizando, ridicularizando, apresentando-o como exagerada, "doentia", etc.

"Cada um sabe de si" - grande verdade, não é?

Um beijinho :)

Carla disse...

Muito bem, parabéns!!!

Jade disse...

A Frisa Kahlo é o exemplo de uma mulher sofredor que sofreu um acidente gravíssimo com consequência físicas muito graves e psicológicas tremendas e a sua obra reflecte isso mesmo, vi a obra dela há uns anitos no CCB e gostei particularmente d0 auto-retraTo com macaco..

Anônimo disse...

love it :)

RENATA CORDEIRO disse...

*Amigo

Beija você com

Carinho e

Deseja com

Entusiasmo sua

Felicidade, e

Garante fidelidade para você.

Humilde é o amigo que

Independentemente de qualquer coisa

Joga tudo para o alto por você e

Larga mão de tudo que seja

Material e desnecessário,

Naturalmente para cumprir sua

Obrigação que é

Proteger a quem lhe protege, e

Querer bem a quem lhe quer bem.

Respeitar seu

Silêncio calado,

Transformando sua vida em uma

Única motivação para

Viver*

Beijos*********************
Bom Hoje!
Be Happy!

Fashion Faux Pas disse...

Eu sou daquelas pessoas que não gosta e tem até muita dificuldade em partilhar a sua dor, é minha. Acho espantoso que esta onda de se criticar aquelas pessoas que guardam a sua dor para si próprias, sinceramente, nunca pensaram que pode ser a maneira como certas pessoas lidam melhor com os seus problemas? Whatever gets you through the day...

catarina disse...

os exemplos do cancro e da perda do filho são um bocado forçados não?

indota disse...

Concordo contigo no facto que os problemas da vida nem sempre podem ser levados com um sorriso.. mas às vezes ironizar a situação e "brincar" com o problema ajuda a ultrupassar tudo melhor, e o pensamento positivo também ajuda !

As coisas também não podem ser levadas como preto e branco, dia e noite ...

ocondutor disse...

A este propósito recomenda-se uma reflexão cuidada da temática ao ritmo desta maravilha musical: http://bit.ly/cMLdio