terça-feira, 2 de março de 2010

Da fama


Milla Jovovich

A fama sempre foi uma coisa lixada. É a fama e o poder. Já vi muita boa gente perder-se por completo em troca dos seus quinze minutinhos de fama, como dizia o Andy Warhol, ou do poleiro, como diz o povo.

E o pior disto tudo é que depois de entrar naquela bola de neve, dificilmente se consegue sair do seu interior, uma vez que, à medida que vai rolando a encosta, se torna cada vez maior e mais espessa. As pessoas tornam-se arrogantemente tristes. Excessivamente inseguras. De uma deprimência sem fim. E, quando se vêem a passar de validade, quando começam a cheirar a azedo, recorrem a tudo. Há quem faça uma sex tape e a ponha a circular na net. Há quem se dispa para uma revista masculina. Há quem telefone aos jornalistas para informar onde vai estar no dia x a tal hora. Há quem faça escândalos em sítios públicos. Há quem invente coisas. E há quem decida achincalhar os outros gratuitamente (criando guerras que nunca existiram) em praça pública, recorrendo a todas as armas. Incluam elas troçar do aspecto físico dos outros, assim à laia de crianças quando faltam argumentos para justificar tamanhos actos (caixa de óculos, gordo, feio, dentolas), incluam elas reduzir doenças graves e cicatrizes físicas e psicológicas a coisas que se inventam para que alguém tenha pena de nós, em suma, incluam elas ridicularizar o semelhante dizendo um chorrilho de disparates e dando voz a outros seres abjectos (como eles).

Destas pessoas nem sequer consigo sentir raiva. Destas pessoas sinto pena. Pena de terem chegado a este ponto em que tudo é possível para serem o centro das atenções. Pena e nojo. Nojo. Muito nojo. Blhéc. E o pior é que esse mundo pestilento está feito para elas. Destas pessoas sinto pena e quero distância. Muita distância. Quando as vemos fazer isto, temos a certeza de que são capazes de muito mais. Talvez não agora, talvez mais tarde.

É nestas alturas que, com alguma pena nossa, e a bem da nossa tranquilidade, decidimos abandonar desafios que tínhamos aceitado, saindo de fininho ao toque das trompetas. É que a nossa paz de espírito não tem preço.

E, volto a repetir, anda alguém a deixar comentários em meu nome.