No Verão passado, na consulta de pré-cirurgia, a anestesista, ao sentir-me a tremer por todos os lados (ia saber o resultado de não sei quantos exames), disse-me: - Oh Kitty Fane (sim, porque este é o meu nome verdadeiro) a menina está a tremer. Daqui nada ainda me cai aí redonda no chão, e depois? Não toma nada nestas alturas? Nem que seja uma coisa fraquinha. Tem de começar a tomar qualquer coisinha. Coitada de si.
E eu disse-lhe que não. Disse que não tomava nada. Disse que aguentava bem as coisas. Mesmo que antes de saber o resultado de um exame não durma nada. Mesmo que nesses dias me doa tudo. Me falte o ar. Mesmo que nesses dias perca a força nas pernas. Porque achava que não valia a pena.
O que é certo é que depois de três anos de cirurgias, exames a tudo e mais alguma coisa, esperas angustiantes, eu já penso de outra forma.
Hoje fui saber o resultado de uma TAC e fui fazer uma citologia aspirativa, de rotina, para jogar pelo seguro. Aparentemente está tudo bem, mas só mesmo determinados exames nos garantem a certeza das coisas. E como nisto nunca as há, o melhor é fazer o exame e aguardar o resultado, pedindo a todos os santinhos para que esteja tudo bem. E posso dizer que não dormi nada a noite passada, que quando ouvi o meu nome na sala de espera fiquei sem força nas pernas, que estava completamente descontrolada, que me sentia a desfalecer. E isto não pode continuar. Não há necessidade de eu ficar neste estado.
Portanto, Kitty Fane Maria vai começar a recorrer a inofensivos drunfos de cada vez que se aproximar uma destas consultas ou um destes exames. Talvez na próxima semana experimente os primeiros. Convém é ser uma coisa bem fraquinha. Como nunca tomei nada, tenho receio de ficar pedrada como a nossa amiguinha Amy. E depois é feio andar por aí toda desgrenhada, descalça, de roupa rasgada, a cambalear por essas ruas e avenidas de Lisboa cheias de paparazzis.