sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Palavras que poderiam ser minhas

Daria Werbowy fotografada para a Vogue UK fotografada por Mario Testino, dezembro 2010

(...)

Resultado: em Portugal hoje em dia é comum uma pessoa sem qualquer formação ou aptidão especial para representar começar a fazê-lo, por variadíssimas razões, que vão da simples aparência ao facto de serem sobrinhos do não sei quantos ou, muito frequentemente, por não se importarem de dormir com metade da equipa de produção, som, imagem e ainda com o individuo que estaciona os carros à porta dos estúdios e vá -toma lá umas deixas que começas amanhã às 8 a ser uma vedeta.

Não querendo generalizar mas avaliando o estado geral de coisas (basta sintonizar as televisões portuguesas a algumas horas do dia e estar uns minutos atento - mas sem exageros não quero induzir o coma a ninguém) o vulgar jovem actor português de televisão é hoje uma espécie de batido de estupidez com natas e açúcar. E vale tudo. Do rapazola musculado modelo de roupa interior a fazer de galã mas com a expressividade de um pinheiro até à adolescente "boazona" mas que é necessário ter um tradutor de "troglodita" para português para se entender o que diz. Daí à passagem a apresentadores é apenas um passo, dois castings e três noitadas. Chamam-lhe produção nacional. Eu chamo-lhe disfunção cerebral. Completa estupidez de quem gere este sistema.

E nascem assim as novas "vedetas" deste país. Ganham tiques e começam a comportar-se como tal. O ridículo total. Alguns são detidos uns meses mais tarde por posse e venda de estupefacientes num qualquer bairro problematico dos arrabaldes. A passadeira vermelha está estendida a tudo o que é grunho. A maioria destas pessoas é desprovida de talento, capacidade ou inteligência. Infelizmente neste país à beira mar plantado e mal regado quem se dedica de alma a esta nobre arte de entretenimento do público através da representação, quem opta e sonha ser actor e para isso estuda e treina aptidões e a vocação com que nasce (não é coisa que de adquira na Bershka), raramente tem uma verdadeira oportunidade de o demonstrar, pois tem os caminhos tapados por uma fila de morangos deslavados e salas cheias de vampiros de boné na cabeça e brinquinho na orelha. Uma tristeza saloia.


Escrito por Tiago Mesquita, no Expresso (e visto no Facebook da Dulce)

7 comentários:

Jade disse...

Fez-me lembrar uma entrevista que vi recentemente do Herman José, em que ele ouvia os jovens actores dessas séries juvenis que para aí andam a queixarem-se do assédio do público a queixarem-se de não andarem sossegados na rua, ao que o Herman respondia ironicamente: " Meu querido, vai ali até Badajoz que isso passa-te. Percebes logo a tua real dimensão"

bécas disse...

uma salva de palmas para o senhor!

Susana Canhola disse...

Disse-o bem, com toda a razão, pois claro!

Green disse...

Ele tem tanta razão em dizer isso, não podia concordar mais. Eu que estudei cinema, não para ser actriz, mas para ser técnica, entendo bem as palavras dele, e também sofro por falta de trabalho, sendo eu uma pessoa que estudei para ser, e como sou bem formada, não consigo arranjar trabalho, nem me quero rebaixar a esse ponto, antes morrer de fome.

prada disse...

Exactamente! Mas a sociedade aplaude.Mete dó,mas é assim.
Quando saíremos disto?

Anônimo disse...

Eu não conheço o meio e esse tal Tiago pode até ter uma certa razão. Mas acho uma injustiça generalizar.
É bom falar isso quando não se é actor, porque não nos toca. Mas se fossemos por mérito, ficaríamos metidos no mesmo saco injustamente. Mas sempre foi assim: pelo o justo paga o pecador.

Acredito que alguns moranguinhos têm o seu talento. ADORO a actriz Sara Prata e ela apareceu dos morangos. Apesar de fazer novelas, consigo ver que tem talento.

As novelas têm uma má reputação, mas é isso que os portugueses gostam, por isso é isso que os actores portugueses fazem.
Quem generaliza é quem conhece muito pouco da vida, mas tudo bem. Cada um com a sua opinião.

Vanita disse...

E como realmente há pessoas que escrevem com autoridade sem saber quase nada do que falam. Pior, como há quem lhes dê a mesma importância que este texto lamenta que seja dada a alguns, poucos, maus exemplos dos jovens que se esforçam para ter uma carreira na área da representação. Tudo isto é lamentável.