segunda-feira, 17 de junho de 2013

Das palavras que poderiam ser minhas

"Crato, com um coro de comentadores que acham excelente o direito à greve desde que seja inócuo, queixa-se da instabilidade que está a ser causada nas escolas. Querem falar de instabilidade? Podemos falar da que ele próprio está a causar quando, sozinho, decidiu suspender o programa de matemática que comprovadamente melhores resultados conseguiu nas escolas. Porque ele não gosta do programa e longe vão os tempos em que o colunista Crato criticava o centralismo autoritário do Ministério da Educação. Estamos a meio de junho e os professores de matemática não sabem que programa vão dar para o ano. Ainda não há manuais e logo se irá improvisar. Isto é a instabilidade que me preocupa porque sou dos que pensam que a escola serve, antes de tudo, para ensinar. Só depois para avaliar.
Instabilidade nas escolas? Mas haverá maior instabilidade do que aquela que é causada pelo terror que Crato espalhou nas escolas, com milhares de professores a desconhecerem em absoluto quanto tempo faltará para que fiquem desempregados? Julgará o governo que isso não se sente nas salas de aula?
O governo quer falar do prejuízo para os estudantes? E que tal falarmos da redução de verbas para alimentação de alunos desfavorecidos, que hoje experimentam a fome na sala de aula por causa da criminosa política de austeridade? Ou do aumento do número de alunos por turma, que torna o acompanhamento aos estudantes com mais dificuldades numa impossibilidade. Ou do ataque ao enriquecimento curricular, que deixará milhares de famílias sem saber o que fazer aos seus filhos quando estes saírem das aulas.
O governo quer falar de prejuízos para a educação e para o País? E que tal falarmos dos 40% de estudantes que, indo fazer os exames do 12º ano, já sabem que não querem concorrer à Universidade? Um percentagem sem precedentes na nossa história recente que se explica pelas dificuldades financeiras das famílias, incapazes de comportarem os estudos por mais um ano que seja.!"

Escrito por Daniel Oliveira, no Expresso

Ler a crónica toda aqui

8 comentários:

Eduardo disse...

concordo em absoluto!

Unknown disse...

Sou professora e fiz greve. Como poderá este país avançar se o governo despreza uma das mais nobres profissões? O que será do nosso país com turmas enormes, carga horária dos prof elevadíssima e cada vez mais velhos? É impossível haver um ensino de qualidade... não entendo como muitos pais não veem isto...

Angelo Gomes disse...

Embora concorde em parte com a luta dos profs,o grande problema é que o País está f-a-l-i-d-o... ha muita gente que ainda nao entendeu isso.

A-24 disse...

Não vejo a hora do ensino ser totalmente privatizado, mas a preços que a generalidade das familias possam pagar, para que os professores do público parem de uma vez por todas com esta palhaçada. Só demonstraram egoísmo, para além de uma total falta de respeito para com os alunos, que afinal são o seu sustento.

Mary E disse...

Sou professora contratada. Ando nisto há pouco tempo mas há tempo suficiente para perceber que assim não quero continuar. A desmotivação é enorme, a instabilidade emocional e profissional estão a apoderar-se de mim, as pessoas falam sobre a classe docente sem perceberem o que realmente é a vida de um professor nos dias que correm....é triste, é lamentável haver tanta ignorância e falarem por falar. Somos a escumalha da sociedade. Não gosto, não aceito.
Obrigada ao Daneil Oliveira pelo artigo fantástico. Abaixo ao Miguel Sousa Tavares.

Um beijinho e força para todos os professores.

Maria Martins
ME
Www.stylingme.pt

Sardine disse...

Concordo em grande parte com a luta dos professores mas só porque tenho conhecimento de professores dedicados e apaixonados pela profissão, como é o teu caso... Infelizmente, os direitos e interesses dos alunos por vezes são totalmente esquecidos...

Susana disse...

Diz o JRD que não vê "a hora do ensino ser totalmente privatizado, mas a preços que a generalidade das familias possam pagar, para que os professores do público parem de uma vez por todas com esta palhaçada"????
Sim, os portugueses tem mesmo dinheiro para pagar uma escola privada. Ele deve achar que as escolas privadas se pagam a 5 € por mês. Ele não deve ser do país em que as pessoas estão a tirar os filhos da universidade porque não tem dinheiro para as propinas. E olhem que as propinas da universidade estão longe de estar próximas das das escolas privadas.
Além disso, deveria saber que há ótimas escolas públicas tal como há ótimas escolas privadas. Mas, nas escolas públicas não são convidados a sair os alunos que estragam a média por causa do ranking...

Cátia Soares * disse...

Claro, claro! Existem famílias que mal têm dinheiro para comer, quanto mais pagar uma escola, por mais barata que seja. Falar é muito fácil!